Páginas

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Uma noite criativa

Várias vezes já ouvi aquela idéia de que depois de algo bom, vem sempre uma bomba. Passei 21 anos de minha vida negando isso e pensando que as coisas boas podem ser infinitas. Tolice.

Depois de quase 4 dias em Barcelona, retorno a minha cidade, Brighton. Quando lembro disso, a única coisa que consigo pensar é "graças a deus não estava no Brasil". E, de fato, foi uma das poucas ocasiões em que agradeci não estar em meu país.

Voltando ao início da história. Chego na estação de Brighton às 18:58. Enquanto coloco o pé direito em terra firme, lembro de um pequeno detalhe: meu ônibus deve estar partindo da estação naquele exato momento. Corro, freneticamente, ao mesmo tempo em que rezo. Sim, rezo, pois o único horário em que não existe o ônibus 27 é das 19 às 20 horas. Quase atropelo, ou de fato atropelo e não percebo, diversas pessoas que estão passeando pela estação de trem. Mal elas sonham que eu PRECISAVA pegar o MEU ônibus, caso contrário mais de uma hora de espera me aguardavam.

Atravesso duas ruas no bom estilo brasileiro: sem olhar para qualquer lado e pensando "f#$%-*&, estou perdendo o meu busão". Chego com vida do outro lado da rua, olho o painel eletrônico e cadê o 27 da lista dos 3 próximos a passar?! Obviamente ele já passara. Não acredito, colo os meus olhos na "time table" e observo o relógio. Perdi! Penso que deve haver alguma outra maneira ao mesmo tempo em que lembro do homem me dizendo "A única opção é esta, caso pegue o 27A, não chegará em casa". Existe um 27A que passa em exatamente 13 minutos. É este mesmo!

A estratégia é a seguinte: um táxi do centro até o meu bairro sairia mais de 12 libras. Um ônibus até uma parte do caminho mais um táxi: talvez um pouco mais de 5 libras. Tá valendo!

Entro no ônibus e peço ao motorista pela última rua na qual o caminho deste ônibus coincide com a do meu. Dike Road. Após 10 minutos estou na calçada da tal rua. Ou melhor dizendo, eu e Deus. Para ser mais exata, SOMENTE eu e Ele. A avenida está quase vazia, não fosse pelos carros estacionados.

Após alguns segundos, passa o primeiro carro. A partir daí comecei a perceber a furada em que tinha me metido. Quase 19:30 e eu precisava de um táxi para voltar pra casa. Como se não bastasse a desgraça por ela só, eu ainda tinha uma "mala de mão" que deveria pesar pouco menos de 10 kilos.

Começo a pensar nas possibilidades que me cercam. Atravesso a rua, parece passar mais carros neste sentido. Após 5 minutos de espera, o táxi passa, mas do outro lado! Perdi o primeiro e talvez o último da noite. Volto para a calçada na qual o ônibus me deixou, observo o horário do próximo 27. 20:14. Olho o meu relógio. 19:49. Sento sobre a mala e aguardo.

Tempo ocioso me dá criatividade. Por que não escrevi naquele momento?! Precisava cuidar o táxi. As minhas idéias brilhantes começam a tomar uma direção por mim não desejada. Olho para trás e vejo uma casa no melhor estilo abandonada. Olho para a esquerda. Ninguém. Para a direita. Um homem correndo. Não demora a me deixar na solidão novamente.

19:55. O tempo não passa e a mente começa a ficar mais criativa. O que ou quem empediria alguém de me levar daquele lugar ou de me assaltar?! Só pensava nos presentes que havia comprado em Barcelona e talvez em algumas táticas de briga. Nunca fui boa nisso.

20:02. Desisto de esperar um táxi, agora falta pouco mais de 10 minutos para o meu ônibus passar. Avisto alguém se aproximando pela esquerda. Parece ser alguém não muito amigo, carregando um cabo de vassoura. O que algém faria com um cabo de vassoura em uma noite de terça-feira no meio da rua?! Depende. No Brasil?! Muitas coisas. Este seria o melhor momento pra começar a correr caso estivesse no meu país. Como estou na Inglaterra. Resolvo dar um voto de confiança ao indivíduo. Ele se aproxima. Deixa cair o cabo. Neste momento eu quase tremo, penso que pode ser uma estratégia para desviar a minha atenção e depois correr e me acertar com o objeto. Agarra-o novamente e vira a esquina. Ufa! Não foi dessa vez!

São 20:10 e começo a pensar que quanto mais olho no relógio, menos o tempo passa. Ainda aguardo o ônibus. Rezo para que ele não atrase. Começo a caminhar em volta da minha mala, com a intenção de me aquecer.

20:17 chega o 27. Os minutos de atraso não chegam a me incomodar, visto que havia passado os mais estranhos e criativos 45 minutos de minha vida.



P.S: Nesta noite eu pude perceber algumas das diferenças entre os países. As pessoas aqui não são muito amigáveis como os brasileiros. Mas em compensação, andar pelas ruas sozinha e com uma mala é bem mais tranquilo. Não sei até que ponto trocaria as pessoas pela segurança.

7 comentários:

Liza Mello disse...

ahhhhhhhhhh
agora sim! tim-por-tim-tim! hehe

Patrícia disse...

Esse foi especialmente pra ti, liza!!!
Assim que der uma boa idéia eu escrevo novamente!

Luana Duarte Fuentefria disse...

Bah, desde o início pensei "ah, pára! não vai ser assaltada! não tá no Brasil!".

Muito bom esse teu tim-tim-por-tim-tim. Podes contar mais que leremos!

Carolina Tavaniello P. de Morais disse...

Será que é tão ruim assim perder e esperar quase uma hora pelo próximo ônibus depois de ter passado 4 dias em Barcelona? Aqui do Brasil, acho que esse não é um fato tão trágico hehehe
conta mais! beijo

Anônimo disse...

atualiza mais pati! adorei o texto!
bjoo!!

Giane Laurentino disse...

Bah ... imaginei a cena. Você sentada na mala em uma rua residencial vazia ... esperando o buzão. Conta mais...
Bjus

Felipe V. disse...

Caraca, que agonia... Fiquei em suspensão o tempo todo, pensando: o que pode acontecer? Cheguei a ficar nervoso, mesmo sabendo que era tempo passado, visto que é um relato. Muito bom Paty, bem descrito, detalhado. Fiquei me lembrando dos tempos de Alvorada City (heheh) onde pegar ônibus não era nenhuma maravilha...
Viagens sempre vem com uma coisa legal de volta na bagagem: um olhar diferente para nossa terra natal.
Beijão!